Skip to content

Maranhão de todos os sotaques

… “Lua, Lua cheia/Que nasce nos meio das águas/Que brilha na Ponta d’Areia/Que finge morrer e desmaia/Nos braços de uma sereia…”. É assim que canta a Companhia Boi Barrica, um famoso e tradicional grupo de Bumba-meu-boi do Maranhão, que se apresenta junto a diversos outros grupos, nos meses de junho e julho em São Luís. Isso mesmo caro leitor, enquanto as festas juninas já acabaram nos demais estados, o São João do Maranhão continua brilhando, pois são sessenta dias de festa em arraiais espalhados por toda a capital ludovicense. Após dois anos de pandemia, a ilha do amor reacendeu as fogueiras da alegria e trouxe de volta a beleza e o encanto dos grupos de Bumba-meu-boi para o grande espetáculo, do São João maranhense.

 

No Maranhão, os festejos juninos celebram o Bumba-meu-boi, com uma enorme variedade de grupos, e além de Santo Antônio, São João e São Pedro, se festeja também São Marçal, no dia trinta de junho, pois ele é o santo protetor do Bumba-meu-boi. O São João do Maranhão, conta com elementos que são Patrimônio Cultural da Humanidade, reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), e reflete influências indígenas, africanas e europeias. Os arraiais montados em grandes espaços por toda São Luís, são verdadeiros espetáculos, que reúnem multidões entre maranhenses, brasileiros de todos os cantos, e muitos, muitos estrangeiros, que veem especialmente prestigiar o brilho e o encanto dos diversos grupos que se apresentam todas as noites. Num segundo palco, o público tem atrações musicais, a maioria cantores locais que trazem grandes clássicos da música maranhense.

 

Impossível ver o São João do Maranhão, e não constatar o quanto o investimento público em cultura é valioso e extremamente necessário a arte, aos grupos artísticos, ao teatro, a dança, a música, aos artesãos enfim. A cultura envolve toda uma cadeia de profissionais, por isso o investimento no setor gera emprego e renda, e por tabela impulsiona o turismo, trazendo visitantes de outras regiões e de outros países. Assim, em São Luís, e em outras cidades do estado, o governo marca muitos pontos, quando investe maciçamente na cultura, pois além de movimentar a economia, preserva tradições culturais e o brilho dos grupos artísticos de Bumba-meu-boi, que encantam o Brasil e o mundo.

 

Nos arraiais ludovicenses, o público aplaude e se emociona com cada grupo que se apresenta; com a riqueza de figurinos e adereços, com o repertório musical (lindíssimo), com os ritmos marcantes, as coreografias, os brincantes, com os instrumentos usados que vão de matracas, pandeiros a maracás, com o tradutor de libras, posicionado ao lado do palco para atender a plateia de surdos-mudos, com a variedade de cores em bandeiras e cenários, com as comidas típicas e o artesanato. E tudo isso junto e misturado, numa grande área que ainda tem campinho, brinquedos para a criançada e apoio de órgãos de segurança. É assim que a cultura popular no Maranhão, segue com força e originalidade. O São João maranhense, é um luxuoso presente pra todos aqueles que apreciam e valorizam a cultura.

 

Portanto, é uma festa plural, que reúne milhares de pessoas de todos os tipos, cores e sotaques. Aliás, cada grupo de boi no Maranhão, representa um “sotaque”. Vejamos. Segundo pesquisadores, tem o boi de Matraca, que tem raiz indígena, o boi Zabumba que é de origem africana, e o boi de Orquestra, com seus instrumentos de sopro, demonstrando influência europeia. Há ainda, o sotaque Costa de Mão, originário da região de Cururupu, e o sotaque da Baixada, ou de Pindaré, originado em municípios, como São Bento, Cajari, Monção e Viana, ao norte do estado.  Assim, é um São João que celebra a diversidade, o amor e o respeito a cultura.

 

Desse modo, a cultura renasce no Maranhão com todo esplendor e danças, como Tambor de Crioula, o Cacuriá, e grupos de bois, como Boi Brilho da Ilha, Boi Novilho Branco, Boi de São Simão, Boi de Sonhos, Boi Nina Rodrigues, Boi Axixá, Boi de Morros, Companhia Mirim Boi Barrica, Companhia Boi Barrica, entre muitos outros, que emocionam o público com apresentações belíssimas. A Companhia Boi Barrica é um capítulo a parte nessa história, já levou a cultura popular maranhense a diversos países, e logo depois dos festejos no estado, representará o Brasil e a América Latina, em festival de dança na Catalunha, Espanha, demonstrando que investir em cultura faz toda diferença, pois os grupos de boi do Maranhão, atingiram um patamar de qualidade artística surpreendente, que encanta os visitantes, e orgulha os maranhenses.

 

E pra terminar essa crônica com chave de ouro, caro leitor, aguarde só mais um pouquinho, porque vem aí, logo após Pantanal, a próxima novela global das nove, que será de Glória Perez, e na qual vai apresentar uma trama a partir do Maranhão, ou seja, logo mais veremos a maior expressão da cultura popular maranhense, o Bumba-meu-boi, com toda sua originalidade em rede nacional, no horário mais nobre da TV. Portanto, a imensa diversidade cultural representada, nos grupos de Bumba-meu-boi maranhenses emociona, faz o público cantar junto, e ter a certeza de que a cultura alimenta a alma da gente. “…Ó Lua linda prateada/Que vem surgindo mais feliz/Eu quero ver a estrela Dalva/Outra vez em São Luís…” 

 

Angely Costa – Professora – Bibliotecária – Escritora – Pós-Graduada em Literatura, Estudos Culturais e outras Linguagens

         

Publicado em: 21/07/2022 – Jornal O Dia