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Malala, lição de amor à educação

Apesar de a escola ser um local privilegiado, para o estudo, a leitura e a apreensão do saber, em nossa sociedade, muitos jovens infelizmente, desperdiçam o tempo e a oportunidade que tem de aprender e construir saberes. É comum, encontrar adolescentes que frequentam a escola, mas não demonstram compromisso com o ensino, não se encantam com a leitura e nem estão preocupados com o crescimento intelectual que, a escola lhes oferece. Esse tipo de comportamento atinge muitas vezes os jovens com bastante poder aquisitivo na sociedade, aqueles que têm fácil acesso aos bens de consumo e quase sempre não lhes faltam mais nada. Parece que quanto mais alto é o padrão econômico de uma família, menos valor se confere a escola. Com isso, perdem a oportunidade de adquirir as habilidades e competências necessárias à construção da aprendizagem e de se apropriar de valores e significados para a vida.

Assim, é necessária uma mudança de atitude, afinal este é um país que muitos não tiveram e outros tantos ainda não têm acesso a escola. Então, todos precisam valorizar e saber enriquecer-se do conhecimento, tão necessário à vida. Educação faz a diferença e revoluciona o mundo. Ao ler o livro Eu sou Malala. São Paulo: Companhia das Letras; 342 páginas, 2013, da jovem paquistanesa Malala Yousafsai, (baleada pelo Talibã – organização terrorista – em 2012), escrito em parceria com a jornalista, Christina Lamb, pude conferir a lição de coragem e amor em defesa da educação, que Malala oferece ao mundo.

Conhecida internacionalmente pelo trágico atentado, que quase lhe tirou a vida e por sua determinação em defender o direito a educação para as meninas (porque em seu país são proibidas de ir á escola), Malala narra em seu livro os acontecimentos que provocaram a violenta reação do grupo terrorista e conta sua história, bem como a de seu país, mergulhado em crises políticas e em tradições culturais e religiosas seculares, onde as mulheres não possuem nenhum direito. Quando nascem as meninas, ela narra, a família as escondem, pois no Paquistão, assim como em todos os países orientais, as mulheres vivem somente para tarefas domésticas e procriação. Por isso, o índice de analfabetismo é altíssimo, pois segundo as tradições religiosas e culturais daquela sociedade, as mulheres são proibidas, (entre outras coisas), de irem à escola; escolas de currículo abrangente são proibidas de funcionar, as únicas instituições permitidas são as chamadas “madrasas” (escolas de instrução islâmicas), somente para meninos, mas estas não seguem o currículo normal, na verdade servem ao treinamento armado da milícia terrorista e a interpretação deliberada do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos.

Nessas escolas, segundo Malala: “… Os meninos aprendem o Corão pela repetição…” (p. 117) e acabam por absorver uma linha radical de pensamento, que aliena e manipula os cidadãos. De acordo com essa fundamentação, meninas não podem ir a escolas de qualquer natureza. Com essa imposição, grupos radicais islâmicos destroem as escolas em explosões e em ataques com homens bomba. Assim assumem facilmente o poder e manipulam toda a sociedade. Foi contra isso que Malala se opôs. Seu pai Ziauddin Yousafzai, um apaixonado pelo saber (algo incomum em sociedades orientais), sempre se preocupou em oferecer educação aos filhos e fundou uma escola de currículo abrangente, se tornando um ativista pela paz em seu país. Malala seguiu seus passos, e à medida que adquiria mais saber, passou a defender publicamente o direito de todas as meninas irem à escola. Disseminou ideias. Destacou-se por suas manifestações. Falou com jornalistas. Foi a veículos de comunicação. Ganhou prêmios por sua iniciativa.

E foi nesse contexto, que a jovem ativista se tornou alvo do talibã, pois apesar de todas as proibições impostas às mulheres, que sequer podem sair à rua sem a burca ou desacompanhadas ou ainda ir a mesquita fazer orações; e das inúmeras escolas destruídas em todo o país, Malala nunca deixou de ir á sua escola e continuou a defender este direito com convicção, até que um dia ao sair do colégio, no ônibus de volta para casa, Malala e suas colegas foram atacadas por membros do Talibã, que interceptaram o veículo e perguntaram antes de atirar. Quem é Malala? Três meninas foram atingidas. E Malala gravemente.

Mas, felizmente esta é uma história com final feliz. Com a ajuda do governo do Paquistão e da comunidade internacional, que se emocionou com o episódio, Malala sobreviveu e recebeu os procedimentos adequados na hora certa. Sua recuperação foi longa, pois foi gravemente ferida, mas os tiros do Talibã não calaram sua voz. Ao invés disso tornou sua causa mundialmente conhecida e a jovem ativista logo recebeu apoio de personalidades em diversas partes do mundo. Em 2011, ela recebeu o Prêmio Nacional Paquistanês da Paz e em 12 de julho de 2013, Malala discursou na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York no aniversário de seus dezesseis anos, quando clamou por educação gratuita para todas as crianças do mundo.

Portanto, que a lição de Malala seja apreendida por todos. Que os jovens de todo o mundo compreendam a importância de valorizar a educação em sua vida e que, assim como Malala se orgulhem de aprender e descobrir.

LILI CAVALCANTI
(PSEUDÔNIMO DE ANGELY COSTA CRUZ – ESCRITORA – PROFESSORA E BIBLIOTECÁRIA DO COLÉGIO “GLÁUCIA COSTA”
PUBLICADO EM: 24/08/2014 – JORNAL MEIO NORTE (Teresina/ PI)