Skip to content

FORRÓ DE RAIZ, LUIZ GONZAGA, TRADIÇÃO E CULTURA NO CHIADO DA CHINELA

A Associação dos Sanfoneiros de Timon, Maranhão realiza semanalmente um encontro para dançar e festejar o ritmo que encanta e movimenta a cultura popular nordestina: o forró de raiz. O evento atrai uma multidão, acontecendo em pontos diferentes da cidade a cada semana e confirma que o forró pé de serra é uma tradição cultural que atravessa gerações; o ritmo que se originou do xote, xaxado e baião, ainda no século XIX em bailes populares, ganhou força realmente, a partir da entrada de Luiz Gonzaga (1912-1989) nessa festança, pois foi o nosso Rei do Baião que divulgou e inseriu definitivamente o forró no cenário musical brasileiro, criando também a música junina nordestina.

Luiz Gonzaga, com seu fole prateado fez o ritmo nordestino brilhar Brasil afora; o som do arrasta-pé é produzido a partir da sanfona, do triângulo e da zabumba, instrumentos essenciais para composição do autêntico forró de raiz. O dia 13 de dezembro, dia de Santa Luzia, é também o Dia Nacional do Forró, justamente em homenagem ao dia do nascimento do Rei do Baião. Festejado o ano todo, mas especialmente nas festas juninas, o forró de raiz é um ritmo contagiante que leva milhares de pessoas a dançar até o sol raiar, em centenas de cidades por todo o Nordeste.

Em virtude dessa presença marcante na cultura nacional, o forró de raiz também divulgado por Jackson do Pandeiro (1919-1982), Dominguinhos (1941-2013), Anastácia e outros está a um passo de se tornar Patrimônio Cultural do Brasil. A manifestação que é uma tradição cultural de nossa região passa neste momento por um processo de mobilização e pesquisa pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em cooperação com a Associação Respeita Januário, a partir do Seminário Forró e Patrimônio Cultural, evento realizado no começo de maio em Recife (PE), que reuniu sanfoneiros, artistas, músicos, artesãos, dançarinos, além de gestores públicos e culturais, produtores e pesquisadores.

Manifestação cultural nordestina conhecida por seu ritmo contagiante, dança atraente e instrumentos originais, terá a pesquisa sobre as matrizes tradicionais do Forró. Participam dessa mobilização todo o Nordeste e Estados onde há forte presença das matrizes do forró, como São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Espírito Santo. No Maranhão a música “Pisa na Fulô”, do compositor maranhense João do Vale (1934-1996), Ernesto Pires e Silveira Júnior pode se tornar Patrimônio Cultural do Brasil. O xote é considerado um dos hinos do forró tradicional, e está sendo pesquisado pelo Iphan, que investiga a complexidade das matrizes tradicionais do forró.

O pedido de reconhecimento foi feito ao Iphan em setembro de 2011 pela Associação Cultural Balaio do Nordeste, que busca registrar as matrizes tradicionais do forró como Patrimônio Cultural do Brasil. A partir disso, foi criado o Fórum Nacional Forró de Raiz que durante encontros e audiências públicas discute o processo de pesquisa realizado para reconhecimento do ritmo como patrimônio. O Maranhão também foi incluído em uma das etapas do processo de registro, onde estão sendo analisados, o forró tradicional maranhense durante o São João, a festa dos Sanfoneiros do município de Porção de Pedras, onde anualmente tocadores se reúnem para celebrar o forró, bem como a Festa do Forró realizada em Pedreiras, uma homenagem ao cantor João do Vale, que nasceu na cidade.

Desse modo, por ser tão presente e marcante na cultura popular, o Forró de Raiz permanece vivo e autêntico no coração dos brasileiros. Luiz Gonzaga como seu grande divulgador deixou um vasto repertório, hoje levado às multidões por seus herdeiros musicais. Artistas, como Chiquinha Gonzaga, Hermeto Pascoal, Elba Ramalho, Zé Ramalho, Fagner, Jorge de Altinho, Marinês, Quinteto Violado, Nando Cordel, Sivuca (1930-2006), Trio Nordestino, Dorgival Dantas, Alcymar Monteiro, Waldonys e outros continuam a divulgar a cultura popular e o forró de raiz. No Piauí a Colônia Gonzaguiana presidida pelo professor Wilson Seraine movimenta sanfoneiros de todas as regiões do Estado, em torno da Procissão das Sanfonas e da Missa de Santa Luzia, eventos em homenagem a Luiz Gonzaga. Entre artistas locais, destacam-se: Gonzaga Lú, Lázaro do Piauí, As Fulô do Sertão, Isaac do Acordeon, Jeruilson e o Forró de Latada, entre outros, que preservam e levam essa paixão nordestina a todos os cantos.

Portanto, é grande a expectativa entre os atores sociais, a cerca da mobilização e pesquisa, em torno das matrizes do forró, pois essa iniciativa promoverá a preservação desse patrimônio cultural brasileiro na memória nacional. O seu reconhecimento como Patrimônio Cultural do Brasil, engrandecerá a arte e a cultura do país, garantindo sua continuidade histórica, valorização e prestígio junto às novas gerações. Após o reconhecimento de um bem cultural, ele é inscrito no Livro de Registros de Formas de Expressão; neste livro já estão o Tambor de Crioula do Maranhão, reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil em 2012, o Samba do Rio de Janeiro, o Samba de Roda do Recôncavo Baiano e o Frevo de Pernambuco. Assim, nosso arrasta-pé também poderá ser justamente incluído nesta lista, afinal o Forró de Raiz é tradição, é cultura, é ritmo e emoção no chiado da chinela! “… Ai, ai, ai, ai baião que bom tu sois/Se o baião é bom sozinho/Que dirá baião de dois/Ai, ai, baião de dois, ai, ai, baião de dois…”

Angely Costa – Bibliotecária, Escritora e Pós-Graduada em Literatura, Estudos Culturais e outras Linguagens