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A hora e a vez dos quadrinhos

Há alguns dias, em visita a uma livraria na cidade, tive grata surpresa ao encontrar na prateleira uma seção dedicada aos quadrinhos. Leitora apaixonada que sou, apressei-me em parabenizar a iniciativa, e a interlocutora logo avisou que, quanto maior o interesse dos leitores, mais novidades receberia. A notícia não poderia ser melhor, pois normalmente livros em quadrinhos ou sobre eles costumam perder-se em meio a variados títulos nas livrarias, ou não são oferecidos de modo algum.

A iniciativa vem preencher uma grande lacuna, uma vez que a leitura de quadrinhos é bem mais freqüente do que se possam imaginar. Os leitores de quadrinhos, na verdade, sentem-se desprestigiados por livrarias e bibliotecas, que na sua maioria, não disponibilizam títulos em quadrinhos, e sobre a arte seqüencial. Contudo, leitores de quadrinhos costumam ser fiéis e ávidos consumidores, são colecionadores e se dispõem a formar clubes ou associações em torno dos personagens prediletos.

Porém, ao longo de sua história, os quadrinhos já foram alvo de orquestrada campanha difamatória na sociedade, chegando a ser queimados em praça pública, numa atitude extrema de censura às HQs. A seu respeito muito já se disse: poderiam influenciar perigosamente crianças e adolescentes, afetando de forma negativa a aprendizagem e prejudicando intelectualmente o indivíduo. Hoje, no entanto, sabe-se que a leitura de HQs, na verdade, enriquece, amplia conhecimento, oportuniza diversas formas de leitura, possibilitando cada vez mais a formação de leitores críticos.

Basta observar caro leitor, como é crescente o uso de quadrinhos na escola, onde são recomendados oficialmente pelo governo federal. Ao exercitar a leitura de quadrinhos, crianças, jovens ou adultos (sim, porque o público leitor de quadrinhos, não se restringe a uma faixa-etária), adquirem de forma não convencional habilidades e competências de aprendizagem, que permanecem por toda a vida. Assim, verifica-se que os quadrinhos, representam valiosa fonte de informação e cultura, na medida em que produzem leitores críticos e interferem positivamente no panorama sócio-cultural através de HQs, cartuns, charges, caricaturas, graphic novel, tiras diárias e outros. Os quadrinhos movimentam poderosa indústria de eventos e estão presentes no cotidiano de milhares de leitores. Ao utilizar texto, imagem e diversos recursos gráficos visuais os quadrinhos condicionam o leitor a interpretar mensagens, e não apenas a identificar códigos. Além disso, os quadrinhos constituem-se em sólido produto cultural, sendo transportado com êxito para o universo de outras linguagens, como o cinema. Neste momento, o filme 300 de Esparta, baseado na graphic novel de Frank Miller, alcança grande repercussão mundial, e como se não bastasse, ainda traz no elenco o ator brasileiro, Rodrigo Santoro.

Daí a importância, dos quadrinhos estarem presentes em bibliotecas e livrarias. Em outros países como o Japão, é comum buscar quadrinhos nestes locais; por aqui, entretanto, ainda é preciso conhecer essa forma de mídia e reconhecê-la como expressão narrativa. Cultivar o gosto por esse tipo de texto, disponibilizando-o em livrarias e bibliotecas, é proporcionar acesso à leitura crítica e exercitar o hábito de preservar a memória coletiva. Todavia os leitores fiéis agradecem e torcem para que a iniciativa se multiplique, afinal, caro leitor, não é sempre que quadrinhos nacionais ou estrangeiros, estão ao alcance das mãos. Divirta-se.

Artigo publicado no Jornal Meio Norte
Ano XII Nº 5385 do dia 19 de abril de 2007 / Teresina – PI
ANGELY COSTA CRUZ
Acadêmica de Biblioteconomia – UESPI – PI
Coordenadora do Colégio “ Gláucia Costa”
E-mail: angely@colegioglauciacosta.com.br